Rio -  Para eliminar as "laranjas podres", leia-se traficantes, do Morro Santo Amaro, no Catete, policiais da Força Nacional de Segurança (FNS) decidiram impor regras ao "cesto" e acabaram punindo as boas.
Moradores contam que, após ocupar a comunidade há nove meses para combater a venda e consumo de crack, as ações dos agentes incluem restrições aos direitos de ir-e-vir. Há toque de recolher e nenhum estabelecimento pode ficar aberto depois de 2h da madrugada. Abordagens truculentas e restrições arbitrárias, ainda segundo a população, também são comuns.
Na manhã de segunda-feira, a própria equipe do DIA foi abordada por policiais em um dos becos e, após apresentar documentos, cujos dados foram devidamente anotados, ouviu do sargento Rainer algumas "orientações".
Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Policiais da Força Nacional de Segurança percorrem vielas vazias: medo e tensão fazem com que moradores evitem sair de casa e ficar em bares | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
De acordo com o sargento, por serem "pessoas estranhas ao convívio diário da região, o mais apropriado seria que os repórteres se identificassem nos contêineres na entrada da comunidade antes de percorrer as vielas".
“O morro está um museu, pior que roça. Parece que eles vieram para expulsar os moradores e comerciantes, e não os traficantes”, desabafou o vendedor Ernani Pereira, 49, que revela ter tido prejuízo de 80% nos rendimentos desde a implantação do toque de recolher.
“Quem chega tarde não tem direito de se divertir e tomar uma cerveja. Às 2h eles passam mandando fechar. Se eu fechar as portas, vou fazer o quê? Virar bandido?”, indagou, inconformado.
Preocupados, moradores avisam até sobre aniversários
Moradores afirmam que as arbitrariedades também ocorrem nas abordagens. Há relatos de testemunhas de que um garoto chegou a ser imobilizado e teve o rosto mantido em contato com fezes de cachorro durante revista.
“Até em casa, ouvindo música, você é abordado e eles pedem para desligar o som”, relatou Jailton Francisco da Silva, 30. Para fazer festas dentro das casas os moradores tem que comunicar aos agentes.
Questionada, a assessoria de imprensa da Secretaria Nacional de Segurança Pública não respondeu os e-mails nem retornou às ligações.