Rio Grande do Sul -  Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, que está sob custódia internado em um hospital de Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria, não está se alimentando direito. Abalado, um dos donos da boate Kiss, que foi palco para a tragédia que deixou mais de 236 mortos no último domingo, está recebendo acompanhamento pisquiátrico e psicológico. O médico do Hospital Santa Lúcia, Paulo Ricardo Nazário Viecili, que está cuidando da situação de Kiko, disse que ele passou a receber soro por conta da má alimentação e da desidratação. 
A TV disponível no quarto do empresário contribuiu para que seu quadro clínico piorasse. De tanto ver as notícias sobre as vítimas e as investigações do que desencadeou o incêndio na casa noturna, Kiko tomou conhecimento da dimensão de toda a tragédia e sentiu a perda de vários amigos que estavam presentes na danceteria no dia fatídico.
Dono da boate Kiss, Kiko Spohr tentou suicídio em hospital na cidade de Cruz Alta após tragédia em Santa Maria | Foto: Reprodução Internet
Dono da boate Kiss, Kiko Spohr tentou suicídio em hospital na cidade de Cruz Alta após tragédia em Santa Maria | Foto: Reprodução Internet
Delegada teme que empresário fuja do hospital
O médico negou o fato de que Elissandro teria tentado se matar com uma mangueira de chuveiro, como foi relatado pela delegada Lylian Carús. Após o ocorrido, ele teria sido algemado por enfermeiros na cama do hospital, fato que também foi negado pelo médico. Spohr estaria sendo amarrado com uma "faixa de contenção" somente quando estivesse fora do campo de visão dos policiais. 
"Ele teve uma crise nervosa, ficou muito agitado, gritou, mas não tentou se matar", disse o cardiologista.
A delegada afirma também que teme que o empresário fuja do hospital. "Estamos preocupados com a integridade física dele, em relação a ele mesmo, em relação a terceiros e também com a possibilidade de fuga", disse em entrevista.
Spohr ainda não tem nenhuma previsão de alta e a direção do hospital não está divulgando o boletim médico do paciente.
Autoridades atualizam para 124 número de feridos internados
O número de vítimas do incêndio da Boate Kiss, internadas em todo o estado, baixou de 127 para 124, de acordo com dados divulgadosnesta sexta-feira pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul.
Após confirmar a segunda morte de um dos pacientes hospitalizados, o que elevou o número de mortos da tragédia para 236, o órgão informou que algumas vítimas apresentaram melhoria no estado de saúde, saindo da ventilação mecânica, e que o número de internados diminuiu.
As 124 pessoas internadas recebem atendimento em hospitais das cidades gaúchas de Santa Maria, Porto Alegre, Canoas, Ijuí e Caxias do Sul, sendo 64 com ventilação mecânica.
Boate virou câmara de gás
O delegado regional que investiga o incêndio na boate em Santa Maria, Marcelo Arigony, disse nesta quinta-feira que a espuma isolante que forrava o teto da boate foi responsável pelo grande número de vítimas. Ele explicou que o material colaborou para que as fuligens e os gases tóxicos se espalhassem com rapidez e em grande quantidade pelo interior do estabelecimento, que virou verdadeira câmara de gás.
Arigony, que perdeu uma prima na tragédia, disse que, se não fosse a espuma, teria sido incêndio pequeno | Foto: Ronald Mendes / Estadão Conteúdo
Arigony, que perdeu uma prima na tragédia, disse que, se não fosse a espuma, teria sido incêndio pequeno | Foto: Ronald Mendes / Estadão Conteúdo
Um dos gases que a espuma produz quando entra em combustão é o cianídrico, considerado um dos mais letais. Quando disperso em locais pouco ventilados, ele se adere a tudo o que for úmido, mantendo seu efeito danoso por vários dias. Na Primeira Guerra Mundial esse gás foi utilizado como arma química e, na Segunda Guerra, ele foi usado no extermínio de judeus pelos nazistas.
“Se não fosse essa espuma, teria sido um pequeno incêndio”, afirmou Arigony.
O fogo iniciou durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso no palco de artefatos pirotécnicos não recomendados para locais fechados. Segundo o delegado, a espuma não tinha a aplicação de produto usado para amenizar a fumaça em caso de incêndio. Uma amostra foi recolhida para estudo. O DJ que tocou na boate na noite do incêndio, Lucas Peranzoni, o Bolinha, disse em depoimento na quinta que a nuvem negra demorou só 15 segundos para tomar o local.
A polícia ainda não recebeu o plano de prevenção e combate a incêndio da Kiss. O delegado pedirá a prorrogação das prisões temporárias dos sócios da boate Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffmann, e de dois membros da banda, Marcelo Santos e Luciano Augusto Leão.
Nesta quinta-feira, a Justiça de Santa Maria negou liberdade provisória para Kiko. O juiz Afif Simões Neto considerou que não há motivos para desfazer a sentença anterior, que se baseou na necessidade da custódia para a investigação.
Investigação acompanhada pelo Facebook
Marcelo Arigony tem usado uma maneira moderna e pouco convencional para informar a população sobre o andamento das investigações. Em seu perfil do Facebook, que é aberto, o delegado publicou na tarde de ontem uma foto em que, aparentemente, funcionários da boate Kiss manuseiam equipamentos que disparam labaredas de fogo. Na legenda, ele orienta os internautas para que “tirem suas próprias conclusões". Até 21h de quinta-feira, a foto tinha 1.592 compartilhamentos e 2.043 “curtidas”. 
Boate já permitia uso de artefatos pirotécnicos durante festas | Foto: Reprodução Internet
Boate já permitia uso de artefatos pirotécnicos durante festas | Foto: Reprodução Internet
Multa por venda de ingresso
Sites que venderem ingressos para festas em locais do Rio que não estiverem em condições seguras de funcionamento receberão multas de R$ 100 mil a R$ 6,2 milhões. A regra será publicada nesta sexta-feira pela prefeitura, no Diário Oficial. 
A Ouvidoria do Ministério Público Estadual apresentou nesta quinta 11 denúncias recebidas desde segunda-feira sobre supostas irregularidades em casas noturnas do estado. Bombeiros — responsáveis por fazer vistorias e conceder a aprovação e registro das casas — anunciaram curso de capacitação a profissionais. A ideia é aumentar a equipe, hoje de 200 pessoas no estado, para 500 e alcançar a meta de, ao menos, 100 fiscalizações mensais na capital.

Vidas perdidas na tragédia de Santa Maria

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A catarinense Isabella Fiorini tinha 19 anos e era estudante de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)