Estados Unidos -  A revelação de identidades e "modus operandi" dos membros da suposta unidade de "hackers" mais secreta do exército chinês foi detalhada ao extremo, e os especialistas consideram que a China não tem intenção de esconder seu papel em uma guerra cibernética global e muito mais complexa.
O hacker "UglyGorilla" assina seus virus e usa o mesmo 'nickname' em um perfil do site militar "chinamil.com.cr", assim como o pseudônimo "DOTA" cria frequentemente senhas relacionadas com Harry Potter e usa seu próprio celular para acessar a internet. Um engenheiro da Dell conseguiu fotos de um dos maiores "hackers" chineses, Zhang Changhe, através de redes sociais.
O relatório disponibilizado nesta semana pela empresa de consultoria Mandiant e publicado pelo jornal "The New York Times" após os ataques que este último sofreu recentemente foram procedentes da China, revela alguns destes detalhes, que eram inéditos.
Os engenheiros da Mandiant, de forma parecida à usada pelos engenheiros da Symantec, conseguiram vídeos sobre como operam os supostos membros da secreta e militar "Unidade 61398", entrincheirada em um discreto edifício de Xangai. Conforme explicou nesta terça-feira o especialista israelense em cibersegurança Yael Shahar ao "National Journal", os chineses não escondem seus ataques pela importância cultural de "dar as caras". "É uma projeção de seu poder, eles não fazem esforços para se esconder", afirmou.
Em entrevista à Agência Efe, Mark Risher, cofundador da companhia de segurança Impermium, disse que a China "está brandindo suas espadas" para mostrar seu poder na cada vez mais ativa "ciberguerra" que acontece em nível global. Segundo relatório de 2012 da Symantec e da McAfee, o país que mais ataques de 'malware' ou vírus realiza no mundo são os Estados Unidos, seguido pela China, e os dois gigantes são também os que estão à frente da lista de vítimas.
governo chinês nega qualquer envolvimento em ataques que podem ser feitos de qualquer parte do mundo através da internet, enquanto que os EUA deram passos para fortalecer sua indústria de vanguarda dando a entender sutilmente que a China consente com violações de sua segurança nacional e empresas.
Na opinião de Jeffrey Carr, fundador da empresa de cibersegurança Taia Global e autor do livro "Inside Cyber Warfare", "está claro que tem origem na China um grande número de ataques porque não há leis nem uma cultura de proteção da propriedade intelectual, mas os chineses não são os únicos".
"O relatório da Mandiant cria um precedente perigoso. Apesar de a China ser claramente um suspeito, não se pode acusar sem provas definitivas o Exército Popular Chinês, isso nos faz correr o risco de uma escalada", disse Carr, que lembra que Rússia, Israel ou França são países também muito ativos em ciberespionagem tanto industrial como governamental. "Temos mais de 30 países desenvolvidos e emergentes aumentando a cada dia as suas unidades militares de ciberespionagem, todas as grandes agências de inteligência estão envolvidas", disse Carr.
Para o especialista do site ArsTechnica, Dan Goodin, o relatório da Mandiant serviu para detalhar como a China obteve terabytes de informação sensível de mais de 140 organizações americanas nos últimos sete anos. Goodin considera que a China é a principal beneficiada desta "ciberguerra", já que está conseguindo "dados de grande valor" das indústrias de ponta dos Estados Unidos, como as das áreas aeroespacial e farmacêutica.
"A informação intangível é nossa principal matéria-prima", afirmou. Como detalha o relatório completo da Mandiant, já em 2004 um curioso internauta chinês chamado "UglyGorilla" perguntava a Zhang Zhaozhong, um oficial militar da reserva e considerado um dos cérebros das "ciberunidades" de ataque chinês, sobre suas inquietações sobre o futuro do país. Em um premonitório tom, o hacker lhe questionou: "A China tem um ciberexército como o dos EUA?".