Aos 35 anos, Thiago Lacerda lida melhor com suas inseguranças
Ator afirma que melhorou com a idade e não teme a morte
POR RODRIGO CABRAL
Thiago posa com a caveira que usa na peça ‘Hamlet’ | Foto: João Laet / Agência O Dia
“Estou mais velho. Isso é ótimo. Adoro a ideia de passagem do tempo. Sou um cara mais interessante hoje do que era em 1997. Sou outra figura. Nem que eu quisesse ainda ser um menino, um Peter Pan, eu conseguiria. Fiquei mais maduro. Estou melhorando e quero melhorar ainda mais”, conta ele, durante o intervalo de um ensaio da peça. A experiência também ajuda a lidar com a fama. “É muito difícil conviver com a notoriedade, a falta de privacidade. Mas, ao mesmo tempo, não é tão horrível a ponto de eu querer jogar a toalha. No início da carreira, me culpava por não querer dar autógrafo, por exemplo. Hoje, se não quero, digo: ‘Agora não’. Não tenho mais problemas com isso”.
Algo que ainda o incomoda, ele revela, é posar para fotografias. “Gosto de tirar fotos com fãs, mas quando é algo mais produzido, realmente, não gosto muito. Tentei ser modelo por muitos anos e não consegui por falta de talento. Não tenho saco, não sei como funciona e me constranjo”, dispara o ator, que, não à toa, foi fotografado por apenas 6 minutos para a reportagem.
Para ator, 'Hamlet' é um dos maiores desafios de sua carreira | Foto: João Laet / Agência O Dia
Se não liga para a estética, ele dá a maior atenção para o caráter. “Todo dia, quando vou dormir, a oração que faço é sobre vaidade, que é a grande cilada da humanidade e precisa ser muito bem cuidada. Se você perde a medida da vaidade, vira loucura. Pessoas cometem atrocidades por causa disso. E, no mundo em que a gente vive, de artistas, que é de sensibilidade e de criação, essa é uma questão recorrente o tempo inteiro”, atesta ele.
Para não ter seu tapete puxado em nome da ganância, como aconteceu com o rei Hamlet, Thiago não abre mão da espiritualidade. “Não tenho religião, mas sou mais religioso do que muita gente que acha que é. Tenho minha maneira de rezar, de pedir proteção. Sou um abençoado por ter essa sensação de proteção de luz. Por isso, não me preocupo. Meu caminho é mais poderoso do que qualquer mandinga”, garante. Por trás do homem de 1,95m de altura, porém, também pairam momentos de insegurança.
“‘Hamlet’ é um dos momentos mais desafiadores da minha carreira. Como ator, na verdade, me sinto desafiado em qualquer lugar. Se for fazer televisão, sempre acho que não sei fazer e meto a cara para tudo sair bem. No teatro, acontece o mesmo. Acho que não sei o texto, que o que eu faço não é suficiente. Nunca desisti porque gosto da sensação do desafio. Gosto de lidar com a ideia de não saber fazer. Essa sensação de pseudo-incompetência é boa, importante para o ator”, considera.
Mas, não raro, pode vir a decepção. “Lamento muito quando faço um bom trabalho e não gosto do resultado como um todo. Da mesma forma, algumas vezes, o trabalho é maravilhoso e você dá um escorregão”, analisa. Para encarnar ‘Hamlet’ e tudo sair bem, ele não dispensa um ritual: antes da estreia do espetáculo, pega a tesoura e picota partes do cabelo. “Parece algo bobo, mas isso cria uma conexão minha com o personagem. Queria promover uma estranheza estética. Comecei a achar que ele se mutila de alguma forma. Em vez de cortar dedo ou perna, sei lá, pensei que ele poderia cortar o cabelo, num processo de desapego estético, espiritual, afetivo. Isso porque ele está ofendido, sofrendo muito”, explica.
E Thiago dispensa a coroa, dizendo-se aliviado por não ser um príncipe, como Hamlet. “Eu seria preguiçoso, um glutão, um louco. Ainda bem que não sou (risos)”, diverte-se. Se não é, pelo menos no palco incorpora todas as peculiaridades do personagem. “Já montei ‘Hamlet’ pelo menos umas seis vezes, e o Thiago é um dos melhores com quem já trabalhei. É um verdadeiro ator shakespeariano”, exalta o diretor Ron Daniels, que é associado à Royal Shakespeare Company, de Nova York.
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