Rio -  Quanto vale a vida? Para policiais do Rio, o preço gira entre R$ 3 mil e R$ 9 mil. Esses são os valores da gratificação paga desde 2010 pela Secretaria de Segurança para reduzir os autos de resistência (mortes em confronto). A média de pessoas mortas pelos agentes da lei caiu, desde então, de três por dia para pouco mais de uma no ano passado (dado computado até outubro). Mais de 50 pessoas deixaram de ser mortas a cada mês.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
Levantamento feito pelo DIA mostra ainda que, no período de agosto de 2008 a outubro de 2009 — antes da premiação da Secretaria de Segurança —, a polícia matou 1.216 pessoas no Rio e prendeu 22.015 em flagrante. O mesmo período analisado entre 2011 e 2012 — depois de instituída a gratificação — apontou uma redução de 61% (466 registros) nas mortes em confronto e, coincidência ou não, um aumento de 36% nas prisões (29.992 casos).

"A polícia do Rio já foi a mais letal do mundo. Mas ainda há muito o que fazer: policial não desfaz cena de crime e não transporta ferido. São Paulo prende cerca de 120 mil pessoas por ano. No Rio, pela proporção, teria que ser entre 40 e 50 mil, mas gira em torno de 20 mil”, critica José Vicente da Silva, ex-secretário nacionalde Segurança Pública e coronel da PM de São Paulo.
prêmio para a polícia matar menos inverte a lógica dos anos 90, no governo Marcello Alencar, quando o policial recebia dinheiro por mortes em confronto. “Vivi essa época, a do tiro, porrada e bomba. Hoje há a busca por uma polícia menos letal. Acho positivo”, avalia Paulo Storani, especialista em segurança, sociólogo e ex-capitão do Bope.
Bonificação é alvo de críticas

A redução das mortes por meio de prêmios em dinheiro divide opiniões. “Pagar para não matar é vergonhoso. Numa sociedade democrática, o direito à vida é obrigação do estado”, critica o secretário executivo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, Luiz Carlos Semog.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), a redução nos índices traz esperança: “Os autos de resistência são desafio também para Ministério Público e a Justiça, que falham muito ao investigar e punir esses crimes”.