Rio -  A cultura cigana terá destaque no desfile da Beija-Flor. A escola, que leva para a Avenida o enredo ‘Amigo Fiel, do Cavalo do Amanhecer ao Mangalarga Marchador’, vai contar a forte ligação deste povo com o animal em uma alegoria. De quebra, representará os gitanos na bateria e na ala das baianas. Para que nada dê errado na hora H, a cigana mais conhecida do Brasil, Mírian Stanescon, fez ritual de sete dias para pedir autorização aos ancestrais para participar do Carnaval.
“É uma festa profana, e não podemos falar sobre nossa cultura sem pedir autorização. Fiz o ritual, oferecendo comida para os ancestrais, e vamos chamar só coisas boas para o desfile”, revela Mírian. Em 1992, com enredo falando sobre ciganos, o último carro da Viradouro pegou fogo. Na época, a suposta falta de ‘autorização espiritual’ para abordar o tema foi apontada como causa do acidente. O carro será reeditado este ano no desfile da escola, na Série A.

Ciganos de verdade: na alegoria, Mírian e outros ciganos vão dispensar as fantasias e irão com suas roupas | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Ciganos de verdade: na alegoria, Mírian e outros ciganos vão dispensar as fantasias e irão com suas roupas | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
“Se falar sobre nosso povo sem fazer o ritual, algo pode acontecer”, diz Mírian, apostando no sucesso da Azul e Branca de Nilópolis, que tem na Comissão de Carnaval um cigano legítimo, Fran Sérgio.
“Na Beija-Flor, todas as religiões são tratadas com muito respeito. A primeira coisa que fiz foi falar com a Mírian e saber o que deveria ser feito”, conta ele, que construiu dentro do barracão um altar de sua fé. Serão ao todo 35 ciganos na alegoria que vai reproduzir um acampamento.
Uma ligação histórica com o cavalo
Os ciganos serão destaque no enredo da agremiação pela importância do cavalo em sua cultura. Anos atrás, quando os líderes dos acampamentos morriam, os equinos eram sacrificados, pois sofriam sem seus donos e, segundo a cultura gitana, eramresponsáveis por guiá-los ao paraíso.
Mírian conta que os ciganos ficaram honrados com a homenagem. ‘É muito importante divulgar a cultura do nosso povo. Como somos nômades, não podemos ir a todos aos ensaios, mas pedi que comprassem o CD do samba para treinarem no acampamento”, contou ela, torcedora da escola da Baixada desde criança, pois morou em acampamento de Nova Iguaçu.