Rio -  Ficar de férias é muito bom. Mas como incomoda as outras pessoas. Claro, em especial, as pessoas que não estão de férias. Mas descobri que incomoda também quem não faz nada e praticamente vive em férias, de almoço em almoço, de shopping em shopping. Confesso que me divirto especialmente com as pessoas que telefonam ou mandam email, SMS, mensagem pelo Facebook e pelo Twitter querendo ser entrevistadas. Estas não escondem o descontentamento com o meu estado de férias.
Na verdade, não é bem com as minhas férias. Mas com as férias de qualquer pessoa que pode atrapalhar a busca pela fama que elas não se cansam de procurar. Qualquer pretexto serve, qualquer dia pode ser e avisam, sem o menor pudor, a data em que chegam ao Rio, sem você saber nem mesmo onde moram ou de onde vêm. Qualquer motivo é motivo. Quer um exemplo? A ex-musa de Ipanema, uma senhora sem noção, sonha ser entrevistada. O que ela está fazendo? Nada. Mas acha que daria uma entrevista espetacular sobre o escritor que está fazendo 100 anos, afinal ela o conheceu e fica muito decepcionada quando descobre que a jornalista em questão também e, como se não bastasse, está de férias. E as tentativas se sucedem, com as desculpas mais esfarrapadas ou com sugestões maravilhosas que seriam ótimas pautas caso não existissem as tais férias. Férias é um tempo onde todo mundo se sente à vontade para dar palpite na sua vida . Almoçou onde? Fez o quê? Viaja quando? Foi ao cinema? Vai para onde? O pior é a decepção de todos, quando você, até meio sem graça, admite que está adorando não fazer nada. Nas férias, até ler jornal tem outro sabor. O sabor e a leveza do descompromisso.
O prazer de não ser escrava do relógio, do tempo, da aparência, do engarrafamento, da chuva, do sol, do calor, da agenda, das datas festivas, das “sugestões” daqueles que sempre têm o que eles chamam de ideia ótima, sobre um tema de um programa ou sobre uma pessoa ou assunto que, de alguma forma, só interessa a eles mesmo. Que delícia que é não ter que cumprir a rotina de cada dia. Acordar sem despertador, almoçar sem pressa, dar um mergulho no mar, que só olhava de longe, há mais de ano, fazer compras sem precisar comprar nada, ler muito, ver todos os filmes que gostaria , pensar e repensar a vida, sem estresse. Nas férias, só não vale fugir de si mesmo, até porque as férias terminam um dia. Mas, vamos combinar, até lá vale muito se repensar, se divertir, se revigorar, avaliar o ano que passou e se preparar para o próximo tempo de trabalho que, se Deus quiser e a vida deixar, será mais produtivo e mais leve. E, se der tudo certo, mais feliz.