Rio -  A Banda de Ipanema bota hoje o bloco na rua, como faz desde 1965. Antes, o Carnaval de rua já tinha acabado. Num fundo de gaveta, achei um texto meu, recortado há 32 anos (!) da ‘Isto É’: “Albino Pinheiro é, antes de tudo, o grande festeiro do Rio.Banho de mar à fantasia, bailes públicos na Cinelândia com a orquestra de Severino Araújo (que ele ressuscitou, não a orquestra, mas Severino), superprodução com a Paixão de Cristo nos Arcos da Lapa, o show das Seis e Meia, com grandes figuras da MPB, a Banda de Ipanema, em suma, tudo que pode alegrar os cariocas é com ele mesmo. Sempre escoltado por um grupo de fiéis escudeiros (sou um deles), Albino roda pela cidade, não tem gafieira, clube de subúrbio, roda de samba e birosca que não conheça, nunca dorme antes da cinco.
Sempre com mulher bonita ao lado. Antes só negona tinha vez, agora, menos radical, de vez em quando vai de branca. Seu apartamento em Ipanema é um vai e vem, tem sempre uma panela de plantão para os amigos, aos cuidados de Dona Rosa. Seus almoços são titânicos, o próprio Albino se garante num feijão, cujo segredo, dizem, é caldo de laranja. Emérito fazedor de pimenta. Foi o primeiro campeão carioca de chope, torneio realizado no antigo Lamas, no Largo do Machado. Albino entornou 70 calderetas goela abaixo e saiu inteiraço. Em pleno sufoco do AI-5, a Banda de Ipanema — sem corda — saía às ruas de Ipanema e a gente dava festas  que ficaram na história da cidade. Marcaram época os bailes da Estudantina, na Banda Portugal e no Silvestre. Zózimo Barroso do Amaral, inimitável cronista (N.A.: hoje virou estátua no mirante da Avenida Niemeyer), que conhece Oropa, França e Bahia, disse que as melhores festas que já viu foram os Réveillons do Albino.
Carlos Leonam inventou a expressão ‘Esquerda Festiva’, que a turma da direita adotou querendo nos desmoralizar. O fascismo só vai ganhar a parada quando o povo desaprender a rir. O fascismo é plúmbeo (epa!) e triste, o contrário da liberdade. Por isso assumo: sou da Esquerda Festiva com muita honra.”
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Albino parou de desfilar em 1994, mas continua vivo enquanto houver a Banda (mãe) de Ipanema.