Rio -  Toda obra de arte é sacramento, sinal sensível do que não se vê e, no entanto, ela expressa. Ela ‘fala’ a cada observador. A arte, como a meditação, nos induz ao mergulho no próprio eu — lá onde o ego se desfaz qual botão de rosa a se abrir em flor — e nos aproxima da ideia de beleza e harmonia.
Hoje em dia o valor da obra de arte, sua aceitação pelo público, tem muito a ver com a performance do artista. E é o mercado, apoiado na mídia, que determina o que tem ou não valor. Muitos artistas morreram sem serem reconhecidos, como Van Gogh, que em vida jamais vendeu uma tela. Presenteou seu médico com o quadro ‘Rapaz de quepe’, que o doutor aproveitou para tapar um buraco no galinheiro de sua casa... Há pouco esta tela foi vendida por US$ 15 milhões!
Todo artista se julga digno de valor e reconhecimento. Isso, entretanto, depende dos críticos, da mídia, da reação do público. O nosso olho, a nossa sensibilidade para a obra de arte, são condicionados pela opinião pública. Esta tende a ser elitista. Considera arte o que atrai o público pagante; e folclore o que atrai pessoas desprovidas de recursos. A meditação, como a arte, exige cuidado, empenho, confiança na própria capacidade criativa. Tanto a arte como a meditação nos conectam com o Transcendente, dilatam em nós potencialidades que nos fazem ‘renascer’.
Todo artista é clone de Deus. Extrai de sete notas musicais, dos movimentos do corpo, do desenho, do barro, do modo de narrar uma história, o que há de belo no humano e na natureza. Recria ao criar. E sempre o faz partir de um estado de concentração comparável à meditação.
Escritor, autor de ‘A obra do Artista — uma visão holística da natureza’