Rio -  Um clima de tensão e ansiedade paira sobre o Oi Futuro Flamengo. A atriz Natália Lage não esconde o frio na barriga. Dali a alguns minutos, ela vai encenar a primeira adaptação teatral do cultuado filme alemão ‘Edukators’ (2004) em um ensaio observado pelo diretor do longa, Hans Weingartner, que veio ao Brasil só para assistir à peça, que estreia hoje.
Atriz estreia peça no Rio | Foto: Divulgação
Peça estreia no Rio | Foto: Divulgação
O nervosismo gerado pela ocasião é tão forte que parece desorientar Natália. “Ai,desculpa, acho que estou chapada”, ela brinca, ao se perder no meio da entrevista, arrancando risos de todo o elenco, e da repórter.
Mas a atriz está bem amparada e seu companheiro de palco, Pablo Sanábio, detentor dos direitos do texto para os palcos, dispara em seu socorro: “A peça não termina quando as cortinas se fecham, há várias intervenções urbanas de Thomaz Velho (o filho designer de Cissa Guimarães) espalhadas pela cidade”, explica Pablo, que para chegar até Weingartner procurou a produtora do diretor com o pretexto de filmar com ele. A estratégia deu certo e Sanábio conseguiu o contato e a atenção de Hans. Na trama, três jovens anticapitalistas, autointitulados ‘Educadores’ (Natália, Pablo, Fabrício Belsoff), invadem mansões. Sem roubá-las, eles reorganizam os móveis e deixam mensagens como: “Seus dias de fartura estão contados”. Até que algo foge ao controle e o trio se vê obrigado a sequestrar o milionário Hardenberg (Edmilson Barros).
Já recomposta do lapso de memória, Natália, de 34 anos, que começou a carreira na TV aos 9, faz uma confissão: “O que eu mais gosto é estar no teatro. Há uma adrenalina em não poder errar. Não tem esse ‘para e faz de novo’ toda hora”.
Apesar da declaração de amor pelo palco, a atriz não renega sua origem e diz que gostaria de voltar aos folhetins: “Achei ‘Avenida Brasil’ o máximo, deu vontade de fazer. Não me chamam para novela porque estou em ‘Tapas e Beijos’”.
Quando o nervosismo inicial dos atores já havia sido esquecido, surge Hans Weingartner em carne e osso. Cumprimentos feitos, final de papo, o diretor João Fonseca deseja “Merda” (significa boa sorte no teatro). E após os 90 minutos de espetáculo, Hans revela o que todos estavam loucos para saber: “Adorei a energia do espetáculo, a pulsação dos atores. Tenho certeza de que a peça fará um grande sucesso”.
Arte Urbana
Se você estiver na rua e encontrar móveis empilhados com a mensagem “Seus dias de fartura estão contados”, não se espante. Ninguém decidiu se desfazer de seus pertences. Trata-se de uma intervenção urbana, assinada pelo designer Thomaz Velho, paralela a peça ‘Edukators’.
As esculturas foram feitas em parceria com os menores infratores do Degase (Departamento Geral de Ações Sócio Educativas), com idades entre 12 e 17 anos. “Os adolescentes adoraram participar. Sou muito aberto a opiniões. Minha mãe sempre me dá vários toques legais também”, conta Thomaz, que é filho da atriz Cissa Guimarães.
As esculturas são encontradas pelo Leblon, Praça Tiradentes, Ipanema, e Largo da Carioca. A variedade é grande, vai de um regador de ouro a cadeiras de madeira velhas. Mas antes de finalizar suas criações, o designer fixou bem cada objeto para que ninguém os confundisse com souvenirs. “Quem tentar levar algo pode passar vergonha”, avisa.