Rio -  Nesta época de grandes mudanças, é comum encontrarmos tendências que se desviam do desenvolvimento ilimitado e de retomar valores antigos e conhecidos. Notícias do Vaticano informam que Bento 16 autorizou a criação de um centro de estudos do latim, língua negligenciada pelo clero há 50 anos, e que apoia a celebração das missas, como aconteciam antes do Concílio Vaticano 2º.
A Igreja Católica sofre mais que qualquer outra instituição com a disseminação do materialismo e do consumismo em nosso tempo. Mas ela tem antídotos mais eficazes contra os efeitos colaterais da globalização e não deve partir para soluções anacrônicas que não estimulem os fiéis a compreender a mensagem cristã.
Em recente artigo, o biólogo Francisco Borba Neto analisava que o alinhamento conservador do Papa Bento 16 contrastava com sua abertura no debate com intelectuais agnósticos e que estes poderiam estar mais perto de Deus que os fiéis, por convenção ou oportunismo. Apesar disto, ele surpreende quando defende as regras e o caminho da tradição institucional.
Enfim, a Igreja só não pode alterar seu destino de fortalecer a solidariedade entre os homens e o de nos fazer redescobrir nossa missão de paz entre as nações. Jesus dizia que o Reino de Deus está em nós, amando o próximo como a nós mesmos. O Concílio Vaticano 2º, iniciado por João 23, foi a resposta à antiga inércia da Santa Sé. Hoje, os desafios exigem novas avaliações de questões como a das células-tronco, da dissolução dos vínculos sociais, do aquecimento global etc, que põem em cheque o futuro da humanidade.
A Igreja Católica, que, em outros tempos, fundou o sistema universitário e iniciou a pesquisa científica, saberá projetar o seu futuro.
Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor