Rio -  Não existe mais dúvida da tamanha proporção que as mulheres seguem alcançando dentro do carnaval carioca. Com o passar do tempo, o antiquado pensamento de que apenas homens desempenhariam certas funções dentro do Grande Espetáculo foi diminuindo cada vez mais, seja nos bastidores, na bateria ou até mesmo no carro de som.

Mesmo com a grande maioria sendo homens, mulheres marcam seu espaço como intérpretes no mundo do samba há muitos anos. Após a presença das famosas Pastoras, na década de 40, e da presença de Tia Surica nos microfones portelenses em 1969, as musas cariocas também começaram a assegurar um espaço ainda maior também no canto das agremiações.

Um dos maiores destaques femininos no canto da Marquês de Sapucaí na atualidade, Júlia Alan não esconde a felicidade de poder vivenciar um maior espaço feminino dentro das escolas de samba, fato que em outras décadas era considerado muito difícil de acontecer com certa intensidade. Prestes a completar dez anos cantando em plena Passarela do Samba, a intérprete ainda projeta um 'poder maior' das mulheres no samba.

"É uma oportunidade que estava faltando. Sempre existiu uma grande vontade, mas faltava espaço. As mulheres não deixam a desejar em nada, nós fazemos o trabalho com o mesmo amor ou até mais que todos os homens. No samba, é tudo feito muito pelo lado do coração, poucas pessoas estão ali recebendo para fazer um certo trabalho, e acho que as mulheres dão um brilho a mais ao espetáculo. Se nos deixarem entrar de vez no mundo do samba, iremos dominar (risos)", declarou ao DIA na Folia.
Júlia faz parte da equipe de canto da São Clemente | Foto: Divulgação
Júlia faz parte da equipe de canto da São Clemente | Foto: Divulgação
Atualmente fazendo parte da equipe de canto da São Clemente e Caprichosos, a cantora admite que ainda sente o leve frio na barriga, como se fosse a primeira vez que estivesse passando pelo Sambódromo, mas crê que a ansiedade e o nervosismo são fatores naturais que antecedem um espetáculo de tão grande proporção, como é o carnaval carioca.

"Sempre, seja em ensaios técnicos ou desfiles. Temos uma responsabilidade muito grande, e precisamos estar com um psicológico muito em dia para dar tudo certo. A ansiedade e o frio na barriga não são possíveis de ficar longe de um momento desses, saber que tem uma grande importância dentro da escola é fora do normal", disse Júlia.

Diferencial na Sapucaí

Na São Clemente, Júlia divide a função com outras três companheiras. Aline Dale, Rosilene e Cecília também compõem o grupo de coro feminino da agremiação da Zona Sul, fato que é visto como um grande diferencial pela diretoria da escola, e reforçado pela cantora da.

"Isto é uma coisa que deveria ter sido feita há muito tempo. Nós, mulheres, temos um grande potencial, da mesma maneira que os homens também possuem. Nosso presidente Renatinho gosta e aposta nisso, quis ser um grande pioneiro. Criou uma bateria totalmente feminina - As Clementianas - e também apostou na nossa equipe feminina no carro de som. Vamos sim fazer certa diferença na hora H", admitiu.
Júlia tem carinho especial pelo Salgueiro | Foto: Alex Nunes / Divulgação
Júlia Alan possui carinho especial pelo Salgueiro | Foto: Alex Nunes / Divulgação
Carinho pelo Salgueiro

Mesmo sendo ex-moradora de Vila Isabel, a bela intérprete começou a carreira em uma das escolas vizinhas ao seu bairro. Os primeiros passos de Júlia na Marquês de Sapucaí foram registrados defendendo Tijuquinha do Borel, onde ficou por três anos, antes de acabar indo parar na Aprendizes do Salgueiro, escola por onde permaneceu por novos três carnavais, e acabou gerando um carinho especial pelo pavilhão vermelho e branco.

"Bom, a minha escola do coração é a Unidos da Tijuca, mas, atualmente, o Salgueiro ocupa um lugar muito especial na minha vida. Estou muito por dentro dos bastidores da escola, preparação, barracão e outros grandes detalhes da escola, que me faz ser dona de um grande amor. Em 2011, a escola desfilou com um samba que eu defendi nas eliminatórias, não estive no desfile, mas assisti tudo com lágrimas nos olhos, foi muita emoção", revelou a loira.

O grande afeto pelo Salgueiro fará Júlia participar do desfile da Vermelho e Branco, mas não exercendo uma de suas maiores paixões. No Salgueiro, a sambista irá desfilar na diretoria da escola, enquanto em suas outras duas passagens pela Sapucaí, o foco será defender as cores da São Clemente e Caprichosos soltando a voz.

"Serão experiências diferentes, no Salgueiro vou estar ali admirando o espetáculo, com um lado muito emocional presente. São Clemente e Caprichosos será mais ação, mais dois desfiles para mostrar que somos capazes de ganhar cada vez mais espaço neste grande espetáculo", concluiu.