Rio -  O drama do pescador Alexandre Anderson de Souza, de 42 anos, chamou a atenção da Anistia Internacional. A organização, que atua em todo o mundo em defesa dos Direitos Humanos, divulgou nesta sexta-feira um relatório contando a história do pescador e incluindo-o entre os latino-americanos ameaçados de morte por lutarem em defesa de direitos. Tocha foi acesa durante lançamento do relatório no Rio.

Ex-morador de Magé e presidente da Ahomar (Associação Homens e Mulheres do Mar), ele vive escondido com a mulher, quatro filhos e um neto, com escolta policial durante as 24 horas do dia. O motivo? Denunciar crimes ambientais cometidos por grandes empresas às margens da Baía de Guanabara.

A amazonense Nilcilene de Lima é outra brasileira incluída no relatório. Presidente de uma associação que representa 800 famílias de pequenos produtores e extrativistas do Amazonas, teve sua casa incendiada, foi ameaçada, espancada e forçada a fugir de sua terra. Tudo por lutar contra a exploração ilegal de madeira na região.
Foto: AF Rodrigues / Divulgação
Ato na Praça São Salvador, onde fica a sede da Anistia Internacional no Brasil, marcou o lançamento do relatório deste ano da entidade | Foto: AF Rodrigues / Divulgação
“Proteger o defensor dos direitos humanos não é só garantir a integridade física da pessoa, mas eliminar a origem do problema”, explica Renata Neder, representante da Anistia Internacional no Brasil.

Neste sábado, a partir das 8h, a entidade fará um ato em apoio a Alexandre na PraiaVermelha, com a campanha “Escreva por direitos”, que incentiva a população a enviar cartas para as autoridades solicitando providências.

“Ano passado foram 1 milhão e 300 mil cartas enviadas e houve muitas conquistas. E-mails são fáceis de deletar. Cartas chamam mais a atenção”, explica Renata.

Alexandre garante que ameaças não vão intimidá-lo

Viver escondido tem sido um pesadelo constante para Alexandre Anderson, que já viu quatro colegas serem mortos nos últimos três anos, sendo que dois deles há poucos meses. E há outros dois desaparecidos.

“O Paulo Cesar, nosso tesoureiro, foi espancado e assassinado com um tiro na cabeça, na frente da esposa e dos filhos. A escolta que eu tenho é insuficiente. São poucos policiais em quem eu posso confiar. Já sofri atentados na porta de casa, mesmo com segurança. Mas não vão me intimidar”, conta Alexandre.

O pescador cobra uma presença maior do poder público, que segundo ele nada tem feito pelas 16 mil famílias que vivem da pesca artesanal às margens da Baía de Guanabara, sem outras fontes de renda.

“Perdemos mais de 80% da nossa área de pesca. Cada vez mais temos problemas com documentações e licenças, enquanto as empresas têm cada vez mais facilidades. E ainda corremos risco de vida”, diz.