Rio -  Sob aplausos e diversas homenagens de amigos, parentes e autoridades do mundo todo, Oscar Niemeyer foi enterrado às 18h desta sexta-feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio.

O cortejo, que seria restrito à família, foi acompanhado por 500 pessoas — entre admiradores e representantes de partidos comunistas —, que, emocionadas, se despediram do mestre da arquitetura com as palavras “Valeu companheiro”. A cerimônia contou com representantes de diversas religiões. Muito emocionada, a viúva Vera Lúcia Niemeyer preferiu manter o silêncio.

A Banda de Ipanema — da qual o arquiteto foi patrono — tocou ‘Cidade Maravilhosa’ e ‘Carinhoso’. “Vamos tocar em tom alegre, como Niemeyer levou a vida. Ele era apaixonado pelo Rio e ‘Cidade Maravilhosa’ é o prefácio da cidade”, disse o presidente do bloco, Cláudio Pinheiro.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Cerca de 500 pessoas foram ao enterro do 'mago das curvas' | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Simples e impactante

Niemeyer buscava na natureza da cidade a inspiração para suas obras. Formas que encantaram a todos e deu ao mestre o título de arquiteto do mundo.

“A forma dele era simples, mas impactante”, disse o neto Carlos Oscar Niemeyer, 47. Para ele, o avô teve a homenagem que gostaria: “Ele com certeza gostou, pois tinha muita alegria de viver. Talvez não tenha gostado da viagem à Brasília”, brincou, referindo-se ao medo que o arquiteto tinha de avião.

Para a família, o maior legado que Niemeyer deixou foi a solidariedade. “Temos sentimento de tristeza pela perda e felicidade pelo reconhecimento dessa multidão”, declarou o bisneto Paul Niemeyer. Carlos Oscar faz coro: “Até quem não o conhecia tinha amor por ele. Era preocupado com as diferenças sociais”.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
O projeto de construção do Palácio das Artes em Caxias e de um estádio de futebol no município idealizado pelo mestre deve ser iniciado no ano que vem pelo neto e arquiteto Paulo Sérgio Niemeyer, 47 anos. “Já tem o terreno e a proposta. Era um sonho dele, queremos realizar”.

Menino de 6 anos que adora o Sambódromo foi ver o ídolo

Logo nas primeiras horas do dia, admiradores se concentravam em uma das entradas do Palácio. Primeira da fila, a administradora e estudante de Arquitetura Gisela Aguiar, moradora do Flamengo, foi prestar sua homenagem a Oscar Niemeyer.

Nascida em Brasília, ela elegeu como obra mais emblemática do arquiteto a Catedral da capital federal. “Fico só triste por ele não ter completado alguns trabalhos”.

Acompanhado do filho Richard, 6 anos, Ana Maria da Silva cumpriu o que havia prometido. "Eu disse que um dia ele iria conhecê-lo. Ele adora o Sambódromo”, disse ela, que levantou o garoto no caixão para ver o rosto do arquiteto.

O adeus a Oscar Niemeyer

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Prefeito Eduardo Paes cumprimenta familiares do arquiteto Oscar Niemeyer

Profissionais ligados à Arquitetura e políticos compareceram, como o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, e o arquiteto Jaime Lerner.

Prestaram homenagens a viúva e o filho de Luis Carlos Prestes — com a bandeira do Partido Comunista — e a filha de Juscelino Kubitschek, Maria Estela. "Agora tem alguém que pode redesenhar a Via Láctea. Ele estava driblando a eternidade, pois para se chegar lá é preciso cumprir burocracias e preencher papeladas", brincou Lerner.

Coroas de flores até de Fidel e Raúl Castro no Palácio

A quantidade de coroas de flores não deixa dúvidas: Niemeyer vai deixar saudade. Ontem, no Palácio da Cidade, em Botafogo, o último adeus ao arquiteto foi marcado por muitas homenagens.

Para o velório, foram enviados 45 arranjos, entre eles, três de Cuba, sendo duas dos irmãos Fidel e Raúl Castro, ex e atual presidente do país caribenho. A cerimônia de despedida começou por volta das 8h30, quando os primeiros populares puderam chegar perto do caixão, coberto com uma bandeira do Brasil.

Ao lado do corpo, as coroas do embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodrigues; do governador do Rio, Sérgio Cabral; do prefeito, Eduardo Paes, que participaram da cerimônia, além de instituições de Arquitetura.

Entre os dizeres, destaque para ‘Oscar Niemeyer, o incondicional amigo de Cuba’, escrita na faixa de Fidel. Até às 15h20, quando o velório foi fechado para um ato ecumênico organizado para parentes e pessoas próximas, estima-se que 600 pessoas tenham passado pelo salão nobre. Entre eles Zuenir Ventura, Ziraldo e Ferreira Gullar.

“Ele introduziu na Arquitetura não só a forma curva como a leveza e a impressão de que os prédios e as construções flutuavam. Por isso escrevi um poema que termina com ‘Oscar nos ensina que a beleza é leve’”, afirmou Gullar.