Rio -  Uma semana após o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, prometer novos mecanismos para acelerar a marcação de consultas e cirurgias no Instituto Nacional deTraumatologia e Ortopedia (Into), na Zona Portuária, a situação de atendimento no hospital especializado não sofreu alteração.

Duas pacientes retratam com seus dramas a péssima qualidade da saúde no país: uma sexagenária que aguarda cirurgia e prevê mais seis anos de angústia; e uma criança de 12 anos, que ainda espera a primeira consulta na unidade.
Foto: João Laet / Agência O Dia
Sandra desistiu de tratar do joelho no Into, tamanha a demora para a marcação da cirurgia no ombro | Foto: João Laet / Agência O Dia
A dona de casa Sandra Mara Mach de Paula tem 62 anos e sofre com ruptura no tendão do ombro direito, que limita a mobilidade do braço. Em 2009, depois de passar por consulta no Hospital Oscar Clark, ela foi encaminhada ao Into. “Ali começou o calvário”, lembra Sandra, que foi consultada e fez ressonância magnética para o diagnóstico.

“Levei o resultado e me mandaram para a fila de espera. Disseram que era para eu acompanhar pela internet a minha vez de fazer a cirurgia. Naquela época, meu número era 300. Hoje, três anos depois, ainda estou em 194º”, queixou-se.

A matemática é simples: se a fila andou pouco mais de 100 números em três anos, a dona de casa terá que aguardar mais seis para ser operada — ela terá 68 anos.

Não bastasse o ombro, em novembro passado o joelho esquerdo apresentou problemas. Lesão no menisco esquerdo, detectada por um médico do Hospital Miguel Couto.

“Quando o médico disse que não tinha vaga no Miguel Couto e que me encaminharia ao Into, disse logo a ele: doutor, nem pensar”, contou Sandra Mach.

Triagem feita há dois anos, sem consulta

A menina Lusiane, de 12 anos, não faz as coisas normais da infância e mal consegueestudar. Vítima de escoliose grave, ela suporta dores absurdas, segundo a mãe, a diarista Jaqueline Rocha, 36, para assistir a aulas numa cadeira incômoda, por horas a fio.

“Cheguei com ela ao Into em 2009. Em 2010, ela passou pela triagem, quando a médica apenas a olhou e diagnosticou a escoliose. Desde então, aguardo que a consulta seja marcada. São dois anos de espera”, reclamou Jaqueline.

Nem mesmo as promessas do ministro Alexandre Padilha resolveram as questões de Lusiane e Sandra. Há menos de 15 dias, mais de mil pessoas se aglomeraram na porta do Into, em busca de senha para atendimento em 2013.

Logo depois, Padilha se comprometeu a regularizar a situação: afirmou que o número de atendentes do call-center aumentaria de 14 para 50; o agendamento de consultas e cirurgias seria informatizado, e o hospital passaria a fazer mais 500 cirurgias por mês. O DIA tentou falar com o Into, mas não localizou nenhum responsável.