Rio -  Entre faltas e indisciplinas, Adriano deixou de ser esperança e se transformou em problema difícil de ser administrado. A quarta falta em pouco mais de dois meses seria motivo de rescisão. A presidente Patricia Amorim mostra, nas entrelinhas, que o rompimento não está descartado, mas pesa prós e contras. A torcida e seu fanatismo são os maiores aliados do Imperador. Às vésperas da eleição, ela não foge do tema e deixa claro que ficará ao lado de Dorival Junior e do diretor de futebol Zinho. Apesar das pressões, na Gávea, Patricia está prestigiada. O segurança da portaria e a recepcionista alertam: “Vão entrevistar a presidente? Peguem leve, nós adoramos ela”.
Foto: André Mourão / Agência O Dia
Patricia Amorim analisa relação de Adriano com Flamengo | Foto: André Mourão / Agência O Dia
O DIA: Qual o balanço da sua gestão?

Patricia Amorim: Acho que foi uma administração que resolveu problemas. Como o Morro da Viúva; o CT que estava havia 30 anos parado; a simples negociação do posto de gasolina que nos rendeu até patrocínio; o reconhecimento do título 1987, a briga continua, mas pela primeira vez a CBF reconheceu. No contrato de transmissão, o Flamengo dividia igual com Vasco, Palmeiras, Corinthians e São Paulo e, pelas relações das gestões anteriores com CBF e Clube dos 13 ninguém brigava, e, com uma coragem muito grande, eu e o Corinthians resolvemos que era importante os clubes negociarem diretamente... Deixo R$ 800 milhões até 2018, enquanto peguei um clube que devia 13º, férias, prêmio, e R$ 80 milhões antecipados. Paguei R$ 116 milhões de dívidas de outras administrações e tenho uma penhora de R$ 18 milhões para resolver.

As turbulências enfrentadas e os ataques da oposição foram os responsáveis pela sua derrota nas eleições municipais?

Não foi só isso, mas teve influência grande, as coisas se misturaram. Quem saiu perdendo fui eu. Eu sempre trabalho com bases eleitorais que deixei em função do Flamengo. Tenho trabalho social, visitava mais, era mais participativa. O vereador é aquele de campo, todo dia com a comunidade. Disso eu me afastei um pouco e sinto falta. Gosto de trabalhar para quem precisa. O futebol tem tudo. Gosto muito de pagar o salário dos funcionários em dia. Neste quesito tirei nota 10.

O assunto Adriano esteve na pauta de uma reunião no sábado...

O Adriano está em todas as pautas. Ninguém pergunta nada. Só assim: o Adriano vai jogar? Quando?

Ele faltou a quarta vez. Qual o seu sentimento? Está cética? Esperançosa? Decepcionada?

(Risos). O Adriano (pausa) é um caso patológico com a torcida. Nunca vi nada parecido. Um amor, um negócio... Faço um exercício para tentar... Quando você chega como presidente do Flamengo fica muito solitário. Quem está do seu lado fica só assim: ‘está ótimo, lindo’. Nada disso faz a minha cabeça. Procuro sair, escutar o Flamengo de fora. Ando na rua, escuto coisas do tipo: ‘bota para jogar’. Tem mulheres que dizem: ‘levo ele para casa, cuido dele, cozinho para ele’. São poucos, mas alguns falam para mandar embora. Se você pergunta a alguém se faltaria o trabalho, ela não responde, diz que tem que botar para jogar. Adriano é Adriano, último ídolo campeão. E é legal com todo mundo. As crianças são loucas por ele.
Foto: André Mourão / Agência O Dia
Patricia vai concorrer à presidência do Fla | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Isso dificulta a relação entre o empregador e o empregado?

Muito. Qualquer outro jogador tem uma relação de trabalho definida. Só no caso dele é diferente. É muito complicada. Não tem uma pessoa que não goste muito dele. Mas a administração não deve ser pautada em cima disso. Temos que ficar juntos do treinador, do executivo, mas tentando entender o torcedor. As pessoas têm o Adriano como filho que tem um problema, que precisa de tratamento, e o Flamengo faz parte do tratamento. Isso é sério, o Flamengo pode ficar doente. Temos que procurar administrar a relação de uma forma que o Flamengo não fique doente, e que o Adriano se cure. Mas está ficando claro para as pessoas. O caminho que a gente desenhou era importante fazer. Dar a mão, abraçar, oferecer. É uma novela mesmo. As pessoas começam a perceber que o Flamengo fez a parte dele. Depende mais do Adriano.

Zinho, diretor de futebol, disse que a quarta falta provocaria a rescisão. Ela está em pauta? Foi colocada na mesa?

Não exatamente assim. Mas estamos atentos e avaliando o tempo todo, isso sempre entra em pauta, mas não chegou nesse ponto.

Ele vai renovar?

O Flamengo fica muito exposto. As pessoas querem tomar conta de uma coisa que precisa ser resolvida internamente. Todos querem saber como o Flamengo vai resolver o seu problema. Se um ator sofre um acidente, atropela alguém, é pego com drogas, a Globo não coloca no Jornal Nacional. Ela tenta diminuir a tensão, vê se ele pode ficar, se renova, se rescinde... mas no Flamengo todos querem participar. Uma loucura. Estou até com calor. O ar-condicionado está em quantos graus? O Adriano me deixou quente (risos).

Você já falou com a família do Ronaldinho depois do rompimento?

Não. Eu gostaria que tivessem me procurado. Muito mesmo. Não tinha necessidade disso. Não fez mal a mim, mas ao Flamengo. A Nação respondeu no jogo contra o Atlético-MG. Dia 8 é primeira audiência.

O CT ficará pronto no prazo determinado?

É um pouco difícil por causa dessa penhora. A obra continua, num ritmo um pouco mais devagar. Se resolver isso ainda no início de novembro, consegue. Alguma coisa vai ser inaugurada, mas não como gostaríamos. Depende muito do fluxo financeiro. O importante é o conceito. Não tinha nada e nós estamos fazendo. Não vamos inaugurar de qualquer jeito. É para usar.

Dizem que seu marido, Fernando Sihman, é tricolor e manda no clube...

É de um machismo fenomenal. É muito pequeno. Fui vereadora durante 12 anos. Acha que eu ligava para ele e perguntava se votava sim ou não? A mesma coisa aqui. Acha que eu pergunto como assina o papel, como falo com o repórter? As pessoas que ligam para ele. Dirigentes e conselheiros às vezes têm dificuldade de falar comigo É mais fácilmandar um homem ir tomar naquele lugar. Ele tenta ajudar, fazer o meio-campo, e dizem que ele manda. Mas nem em reunião de diretoria ele participa. Todos somos Flamengo. Ele comprou o título dele de sócio-proprietário em 1998. Ele não é Flamengo?