Rio -  Com a retomada de Manguinhos e Jacarezinho pelas forças policiais, domingo, moradores da região e do entorno apostam na recuperação do comércio e valorização imobiliária. A exemplo do que ocorreu na Vila da Penha e Tijuca, que receberam novosinvestimentos  após a pacificação de várias favelas, as duas comunidades recém-ocupadas e bairros vizinhos, como Higienópolis e Benfica, já esperam melhorias.

Segundo o vice-presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), Cláudio Hermolim, a tendência nas regiões pacificadas é de valorização. “A pacificação já agrega valor, pois você deixa de ter uma região rejeitada e passa a ter uma mais atrativa. No Jacarezinho, por exemplo, havia muitas empresas, que saíram de lá por causa da violência. Ao melhorar a segurança, você dá condições para elas ficarem”, pontuou.
A tendência, segundo profissionais do ramo, é de crescimento do comércio e valorização de imóveis na região das comunidades recém-pacificadas | Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
A tendência, segundo profissionais do ramo, é de crescimento do comércio e valorização de imóveis na região das comunidades recém-pacificadas | Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia
Expectativa nas lojas

Para Mário Amorim, diretor da Brasil Brookers, um das maiores imobiliárias do País, a segurança foi responsável pela valorização de outras regiões. “Exemplos recentes são a Tijuca e a Vila da Penha, que tiveram cerca de 40% de valorização imobiliária”.

Moradora de Higienópolis, Elizabeth Camano, 47, conta que vizinhos que saíram do bairro pensam em voltar. “Muitos deixaram suas casas há anos. Desde que foi anunciada a criação da Cidade da Polícia, no Jacarezinho, eles já falaram em voltar”.

Comerciantes comentam que, além da violência, a presença de usuários de drogas nas ruas afastava clientes. “O movimento vai aumentar. Com mais segurança, as pessoas não têm medo”, disse Marcelo Dias, 42, gerente de mercado na Av. dos Democráticos.

João Nivaldo, 54, dono de petshop na via,comemora: “Desde segunda não vejo usuários de drogas na calçada. Eles ficavam em frente à loja abordando clientes”.

Na Rua Sen. Bernardo Monteiro, a famosa Rua dos Lustres, em Benfica, a expectativa é grande. “Pessoas de outras partes do Rio se sentirão mais confortáveis para vir”, disse Paulo Lemos, 64, gerente de loja.

Homem pede ajuda para se livrar do vício da cocaína

O trabalho do Bope no Jacarezinho pode ter resgatado uma vida da dependência química. Aos prantos, o motorista P., 38, pediu ajuda ontem aos policiais para se livrar do vício da cocaína — droga que consome há nove anos e a qual atribui o fim do seu casamento.

A dor pela morte do irmão, assassinado, empurrou P. para o vício. “Encontrei nisso um refúgio para o meu sofrimento. Achei que conseguiria me controlar, mas fui perdendo tudo o que tinha de mais precioso”, contou.
Foto: Divulgação
Sargento Glebson, do Bope, conversa com dependente que pediu ajuda | Foto: Divulgação
Ao ver uma entrevista do major Ivan Blaz, relações-públicas do Bope, sobre o trabalho na comunidade, o homem disse ter recebido o incentivo que precisava.

“Saí de casa com a roupa do corpo e vim procurá-lo. As palavras dele mudaram a minha história. Quero resgatar a minha família”, desabafou.

O drama emocionou os ‘caveiras’, que o encaminharam para um centro de reabilitação de dependentes.

“Toda a nossa luta tem o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Quando vemos isso de perto, é emocionante. Somos guerreiros, mas humanos”, disse o major.

Crack: denúncias mostram preocupação

Informações recebidas pelo Disque-Denúncia (2253-1177) demonstram a preocupação dos cariocas com a migração dos usuários de crack que viviam em Manguinhos e Jacarezinho. Antes da ocupação das duas comunidades, em 12 dias — entre 1º e 13 —, o serviço recebeu 46 telefonemas (3,5 por dia) sobre novas concentrações de viciados pelo município, sendo uma ligação do Jacarezinho e quatro de Manguinhos. Em apenas três dias, de domingo até ontem, foram 60 (20 a cada 24h). Nove partiram do Jacarezinho e 10, de Manguinhos.

“É o clamor da população, que quer ver esse pesadelo solucionado”, avalia o coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges. Os bairros que mais perceberam migração após a ocupação, segundo Borges, foram Bonsucesso, Sampaio, Ilha do Governador, Ramos, Benfica e Centro. Ontem, 67 viciados foram acolhidos no Parque União.