Rio -  A história de Rodrigo Minotauro se confunde com a do MMA. Obstinado em transformar o "violento" vale-tudo em esporte, no fim dos anos 90, o brasileiro dedicou mais do que empenho na função. As marcas das batalhas, do Pride ao UFC, estão entalhadas em seu corpo como mapa da evolução das artes marciais mistas. A mais recente deixou cicatriz em sua alma.
Foto: André Mourão / Agência O Dia
Minotauro não esquece do algoz Frank Mir | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Ansioso para pegar Dave Herman, 28 anos, no UFC Rio 3, sábado, o peso-pesado dá o pontapé no início do fim de sua vitoriosa carreira. Em três anos, a lenda deixará o octógono, mas não antes do terceiro duelo com seu maior algoz: Frank Mir.

Dono de um cartel com 33 vitórias e sete derrotas, Rodrigo, 36, poderia buscar aposentadoria tranquila e seguir administrando seus negócios como empresário, dono de uma das melhores academias do mundo. Porém, a terceira revanche contra Frank Mir não sai da sua cabeça. Difícil esquecer o primeiro rival que o nocauteou e o único que o impôs uma finalização.

“Quero muito essa luta, antes de me aposentar vou fazer esse combate. Essa é uma história que para mim ainda não acabou”, decretou o faixa-preta de jiu-jítsu, convicto.

Recuperado da fratura no braço direito causada pelo maior inimigo, em dezembro, Minotauro é elogiado por companheiros de treino e pela fisioterapeuta Angela Côrtes. Dono de uma humildade rara dentro do esporte, ele afirma que está bem, mas não é para tanto. No HSBC Arena o público verá um atleta mais bem preparado do que o que nocauteou Brendan Schaub, em agosto de 2011.

“Não sei se estou no melhor momento, mas sem dúvida estou bem melhor do que na luta contra o Schaub. No UFC Rio 1, vinha de um problema sério no quadril, fiquei meses de muletas. Muitos duvidaram de mim, mas consegui dar a voltar por cima e conquistar a vitória. Já contra o Mir estava bem preparado, mas acabei cometendo um erro e perdi”, afirmou o ídolo, que controlava aquela luta, mas abdicou do nocaute para buscar a finalização e acabou sofrendo uma chave de braço do americano.

Contra o falastrão Dave Herman, Rodrigo terá a chance de nova volta por cima, daquelas que a vida sempre lhe reserva. Será mais um capítulo da saga que começou em 1999 e que terá seu fim a curto prazo, mas ficará para sempre na história.

Minotauro critica adversário e promete calá-lo

Adepto do que os americanos chamam de "trash talk", muito comum no boxe e na luta olímpica, Dave Herman chegou ao Brasil na manhã desta quarta-feira, mas parece ter deixado a vontade de dizer besteiras nos EUA. Após criticar a eficácia do jiu-jítsu, o adversário de Minotauro garantiu que buscará a finalização. Herman vem de duas derrotas seguidas no UFC e precisa bem mais do que conversa fiada para escapar de uma demissão.

“Acho que essas críticas são para vender a luta. O Herman tem algumas vitórias por finalização e tem algumas posições boas de jiu-jítsu. Uma pessoa em sã consciência não pode questionar a eficiência do jiu-jítsu, ainda mais no MMA”, analisou Minotauro.

No momento em que aceitou lutar contra Dave Herman, o brasileiro mostrou desconhecimento do oponente. Porém, depois, lembrou que se tratava de um cara duro, mas que não teve sorte recentemente contra Roy Nelson e Stefan Struve.

“Não liguei o nome à pessoa. Mas já tinha visto algumas lutas dele no Bellator. Ele é um lutador duro, e eu gosto que falem. É mais um estímulo para eu ir lá e calar a boca dele”, frisou Rodrigo.

Companheiro de treino enaltece condição física e talento do ídolo

Com a confirmação do combate contra Dave Herman, Rodrigo Minotauro se apressou para reforçar seu treino e escolheu a dedo seus sparrings. Nas últimas três semanas, o ídolo intensificou seus trabalhos com atletas que possuem porte físico parecido com o adversário de sábado ou com estilo parecido.

No primeiro quesito, Vinícius Spartan foi o escolhido. Ex-lutador do UFC, ele trabalhou de forma dura com Minotauro, simulando a pegada de Herman e o "clinch" que o lutador americano poderá usar no combate. Já para aprofundar seu conhecimento no wrestling, Rodrigo contratou os serviços de um outro ex-Ultimate, o americano Josh Hendricks.

Após semanas de trabalho duro, todos elogiaram o desempenho e a saúde de Minotauro, que provou estar na ponta dos cascos.

“Ele é fora de série, um obstinado. Treina como se não sentisse dor alguma. Está numa fase física e técnica de dar inveja e vai crescer se a luta chegar ao segundo round”, disparou Vinícius Spartan.