Rio -  Dois dos principais redutos do tráfico no Rio, o Complexo de Manguinhos e a Favela do Jacarezinho vão finalmente ser ocupados pelas forças de segurança pública.

A ação, programada para este fim de semana, abrirá caminho para a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A previsão é que a primeira fase da ocupação dure até o fim do ano, quando a sede da unidade deverá ser inaugurada. A Secretaria de Segurança não confirmou a operação, que pode ainda sofrer alterações.

A retomada do território em Manguinhos e no Jacarezinho vai beneficiar mais de 70 mil pessoas, entre moradores e população que circula pela região.
Foto: Arte O Dia
Arte: O Dia
Dominada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV) há décadas, a área se tornou uma das mais perigosas do Rio, devido aos intensos confrontos armados.

As favelas do Mandela e Varginha, vizinhas dos complexos, também vão ser ocupadas. Um grande aparato será usado pelas equipes das polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal.
A operação deverá contar com apoio de veículos blindados da Marinha, além dos ‘caveirões’ das polícias e alguns helicópteros. Os equipamentos incluem blindados anfíbios e tecnologia de ponta para facilitar a comunicação entre os agentes em campo.

O aparato foi usado nas duas últimas grandes ocupações: Rocinha, em novembro, e Mangueira, em junho de 2011. O número de policiais na ação ainda não foi definido. Outros órgãos, como a Secretaria de Estado de Assistência Social e a Guarda Municipal, também participarão da ação.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Policiais sempre encontram barricadas nas favelas daquela região | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
A decisão do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, de ocupar Manguinhos foi tomada há três meses, quando 15 bandidos da favela desafiaram a polícia ao resgatar um comparsa de dentro da carceragem da 25ª DP, no Engenho Novo.

Policiais e pessoas que registravam ocorrências na unidade foram obrigados a deitar no chão, enquanto os criminosos cortavam com alicate o cadeado da cela que, durante três horas, manteve preso o traficante Diogo de Souza Feitosa, o DG.

Ele é o segundo na hierarquia do crime em Manguinhos e Mandela e continua foragido. Na época, o secretário Beltrame classificou o episódio como "inaceitável".

Um desafio para a cidade

Manguinhos e Jacarezinho representam grande desafio. Por ali, passam algumas das mais importantes vias da Zona Norte, como as avenidas Democráticos, Dom Hélder Câmara e Leopoldo Bulhões. Esta última ficou conhecida como "Faixa de Gaza", por conta dos confrontos entre a polícia e os traficantes.

Durante os últimos anos, estes acessos foram constantemente alvos de ladrões para atacar motoristas e pedestres. Outra grande preocupação da Secretaria de Segurança é que Manguinhos e Jacarezinho viraram um dos principais entrepostos de drogas do Comando Vermelho.

O comércio de entorpecentes gerou o surgimento de cracolândias em vários pontos das comunidades, alvos constantes das operações policiais e das secretarias de Assistência Social do estado e do município, que encaminham os viciados para abrigos.

Sede da UPP será instalada até o fim do ano
A comunidade deve receber a sede da unidade até o fim do ano. Outras bases avançadas serão erguidas no Jacarezinho e Mandela, em 2013, além de policiamento na comunidade Varginha, fechando o cerco da polícia naquela região.

Outro importante projeto também vai contribuir para a pacificação dos bairros vizinhos aos conjuntos de favelas: a inauguração da Cidade da Polícia, no Jacarezinho, prevista para ocorrer em abril.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Apreensões durante operações policiais no Complexo de Manguinhos | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
O complexo abrigará 32 delegacias especializadas da Polícia Civil em dez prédios, além de centros de instrução com favela cenográfica e estande de tiros, canil e carceragem para presos. O projeto custou R$ 40 milhões e por lá devem circular cerca de três mil agentes.

Em entrevista ao DIA, no final de 2011, o secretário José Mariano Beltrame deixou claro que, mesmo com a Cidade da Polícia em funcionamento, a região necessita de uma UPP.

“São áreas muito grandes. Para policiar uma região assim, só colocando os policiais lá dentro”, afirmou.