Rio -  Cenas de sufoco dos passageiros e da ineficiência da SuperVia na operação do serviço se repetiram nesta quinta-feira. Menos de 24h após o acidente em Madureira, uma maquinista foi atropelada por uma composição na Central do Brasil e o rompimento de um cabo próximo à estação de Piedade deixou usuários novamente a pé nos trilhos.

Em vistoria preliminar, o Conselho Regional de Engenharia do Rio (Crea-RJ) apontou a possibilidade de abertura na linha férrea ou desgaste de rodas e trilhos terem provocado o descarrilamento de terça-feira, quando pelo menos 16 pessoas ficaram feridas na colisão do trem com duas pilastras em Madureira.

Especialistas e técnicos revelam que a falta de manutenção pode ter ligação com os constantes acidentes. A estação está em reforma.
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Na Estação Piedade, funcionários consertam cabo de energia rompido | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
A situação mais grave ontem foi o atropelamento da maquinista Tatiana Cristina Lopes da Silva, 29, atingida por vagão enquanto atravessava a pé a via férrea, próximo à Central. Ela foi levada ao Hospital Souza Aguiar, onde teve o baço retirado e segue no CTI. Seu estado inspira cuidados.

Os transtornos começaram logo nas primeiras horas desta quarta-feira. Como na véspera, trem do ramal de Japeri, que seguia para a Central do Brasil, teve a circulação interrompida, por volta das 6h40.

Segundo a SuperVia, houve defeito no equipamento que faz ligação entre o trem e a rede aérea na Estação Engenho de Dentro. Passageiros tiveram que ser transferidos para outras composições.

Por volta das 14h, mais problemas. Falha em um dos pantógrafos — equipamento no alto do vagão que transmite eletricidade — de composição vinda de Japeri e a posterior ruptura de cabo de energia obrigou passageiros, mais uma vez, a andar pelos trilhos até a Estação Piedade.

Passageiros passam por momentos de pânico em trem da SuperVia


Composição da SuperVia sai dos trilhos perto de Madureira, atinge pilastra de estação e deixa mais de 15 feridos

“Na hora, todos ficaram desesperados e houve tumulto. O operador, pelo sistema de rádio, pediu que descêssemos. Sem ajuda de ninguém da SuperVia, caminhamos até a estação”, informou usuário.

Manutenção periódica falha e uso de equipamentos ultrapassados

Durante inspeção preliminar, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) detectou que o descarrilamento de terça-feira teria ocorrido na máquina de chave (dispositivo de desvio no trilho), no instante da passagem do último vagão. Sem o devido encaixe, a composição tombou e colidiu contra as pilastras.

Nos próximos dias, o laudo elaborado por técnicos será encaminhado à Comissão de Prevenção de Acidentes do conselho. Para técnicos do Crea, a falta de manutenção periódica adequada e a utilização de equipamentos ultrapassados têm ligação direta com as constantes falhas. A simples troca de composições por trens novos não seria suficiente para resolver o problema.

Para garantir segurança e eficiência, a rede elétrica e dormentes de madeira, por exemplo, já deveriam ter sido substituídos por redes autotensionadas (com tensão permanente pelos fios) e dormentes de concreto.
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Em Madureira, técnicos ainda avaliam causa do acidente de terça. Estrutura de pilastras
foi abalada | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
A SuperVia alega que serão trocados 179 km de trilhos, 122 mil dormentes e 200 mil m de cabos de rede aérea.

As intervenções são parte de programa de investimentos de R$ 2,4 bilhões — sendo mais da metade do governo do estado. Sobre o descarrilamento, a empresa diz que só em 15 dias terá respostas.

Estação de Madureira ainda está parcialmente fechada

Nesta quinta-feira, a Estação Madureira, onde trem descarrilou na terça-feira, permanecia parcialmente fechada para reparos. Passageiros que circulavam pelo local se queixaram da falta de informações.

Na 29ª DP (Madureira), onde o caso também é investigado, o delegado Rui Barbosa de Souza espera ouvir o maquinista Gustavo Kazan em até 15 dias. Ele aguarda ainda o laudo do Instituto Carlos Éboli.

“Já ouvimos oito passageiros, todos relatam que ouviram barulho estranho, anormal, e que a composição estava em velocidade acima do comum”. O laudo do ICCE será confrontado com o da SuperVia.