segunda-feira, 10 de setembro de 2012


‘Ele surtou e chora o tempo inteiro’, diz comandante da PM sobre policial envolvido em confronto no PAM

Herculano Barreto Filho
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Em entrevista exclusiva ao EXTRA, o coronel Erir Costa Filho, comandante-geral da Polícia Militar, revelou que o policial envolvido no tiroteio no Posto de Atendimento Médico (PAM) de Coelho Neto está hospitalizado e com problemas psicológicos. “Ele surtou. Já está no hospital, chorando o tempo inteiro”.
Na última terça, a dona de casa Claudia Lago de Souza, de 33 anos, foi feita refém por um bandido que invadiu o PAM. Durante uma troca de tiros com policiais militares do 41º BPM (Irajá), a vítima morreu ao ser usada como escudo humano. Depois do tiroteio, o bandido sequestrou um ônibus escolar e conseguiu fugir. O tiro que atingiu a dona de casa na barriga teria sido dado pelo PM, que usou um fuzil.
Em entrevista concedida no Quartel-General da Polícia Militar, o coronel Costa Filho anunciou uma série de mudanças na instituição, como um programa de avaliação dentro dos batalhões, que começará na próxima segunda-feira, e uma política de retirada gradativa de armamento de grosso calibre nas áreas menos problemáticas.
O comandante também falou sobre o que chama de “mudança de mentalidade” na corporação. E revelou, também, uma filosofia que ainda faz parte de policiais: “O policial, às vezes, acha que é um herói. Passamos por fases que o herói era o matador. Queremos uma polícia mais humana”.
Confira, na íntegra, a entrevista com o comandante da PM:
Como o senhor avalia a atuação dos policiais em Coelho Neto?
- Arma de grosso calibre não poderia ser usada de jeito nenhum no PAM. Foi mal avaliado. O certo era fazer o cerco, pedido auxílio até o Bope chegar para negociar.
O policial, às vezes, acha que é um herói
Coronel Erir Costa Filho
Como o senhor vê a situação de policiais que acabam expulsos da corporação por desvio de conduta ou imperícia?
- A perda é muito grande. Recebo vários deles chorando, querendo voltar. Mas não tem como. Perderam a oportunidade. Depois, não conseguem nem emprego lá fora. Vão dirigir kombi. É isso que nós estamos tentando mostrar. O problema é que muitos não caem na real. Quando isso acontece, é tarde. Foi como esse policial do PAM. Ele surtou. Já está no hospital, chorando o tempo inteiro. Nessa profissão, nós temos que pensar rápido. E ter a consciência que outras pessoas podem perder a vida. Estamos aqui para fazer com que os policiais reflitam. Estamos trabalhando muito para essa grande mudança na PM. Que nosso estado merece.
Que mudança?
- O policial, às vezes, acha que é um herói. Tem policial que fala assim: “Eu quero manchete”. Se eu conseguir fazer isso, eu estou na primeira capa do jornal. E decidiu errado, pensou errado. Ele tem que pensar como profissional de polícia, que às vezes, salva uma vida sem aparecer e também se torna um herói. Mas isso é consequência do trabalho. Passamos por fases que o herói era o matador. E não pode ser mais assim. Queremos uma polícia mais humana.
Existe uma cultura de atirar. Precisamos mudar esse pensamento
Coronel Erir Costa Filho
O senhor acredita na necessidade do uso de armas de grosso calibre? Existe, por exemplo, a possibilidade de trocar fuzis por carabinas?
- Foram adquiridas cerca de 1,5 mil carabinas, mas vieram com defeitos e foram devolvidas para a fabricante. Estamos avaliando outra fábrica para a aquisição dessas carabinas. Temos áreas no Centro e na Zona Sul onde não usamos mais o fuzil, por causa do processo de pacificação. Mas difícil é colocar isso na cabeça do policial.
Por quê?
- Porque ainda existe essa cultura de guerra. Antigamente, era o revólver e veio a pistola. Aí, ninguém quis mais o revólver. Aí, veio o fuzil. Ninguém quis mais a pistola. Só o fuzil. Se der um canhão, eles esquecem o fuzil e vão trabalhar só com canhão. Existe uma cultura de atirar. Precisamos mudar esse pensamento. A última decisão do policial é o tiro. Mas não é de uma hora para a outra que vamos mudar a mentalidade dos policiais mais antigos. Estamos trabalhando com a mente deles. Eles precisam ter a confiança de que o fuzil, hoje, é desnecessário. Precisamos mostrar para eles que a pistola tem o mesmo efeito de segurança para o policial.
Mas os fuzis continuam?
- Em algumas áreas, sim. Ainda existe essa necessidade. Só estamos mostrando que tem locais que não podem onde não há mais essa necessidade.
A Polícia Militar vai do céu ao inferno numa fração de segundo
Coronel Erir Costa Filho
A diretora da escola indicou o caminho errado para evitar uma tragédia Parte da população deixou de acreditar na polícia?
- As crianças foram levadas para o Morro da Pedreira. E se entrassem na comunidade? Quem iria tirar as crianças de lá? Mas nem sempre é assim. Temos várias ocorrências onde a população mostra que acredita no nosso trabalho. A Polícia Militar está 24 horas nas ruas, com todas as mazelas, com seus erros, mas é a única que está ali. Quando acontece um problema, as pessoas ligam 190. Recebemos quase 20 mil ligações por dia. A população acredita.
Como o senhor avalia esse momento da Polícia Militar?
- A Polícia Militar vai do céu ao inferno numa fração de segundo. É um momento em que precisamos dar uma resposta à sociedade. Não é papel da polícia a perda de uma vida. É triste. Estamos fazendo estudos e intensificando as instruções para evitar situações como essa. Lamentamos a perda da esposa desse cidadão.
E no restaurante Brasa Gourmet? O que o senhor achou da ação dos PMs?
- Até a troca de tiros, a atuação estava correta. Mas os policiais não isolaram o local. Quando fizemos o estudo de caso e analisamos as filmagens, vimos o policial pegando a mochila. Aquilo nos chocou. Os envolvidos estão respondendo a Conselho de Disciplina.


Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/ele-surtou-chora-tempo-inteiro-diz-comandante-da-pm-sobre-policial-envolvido-em-confronto-no-pam-6043220.html#ixzz265m0SNXx

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