Rio -  A brincadeira de um estudante de 12 anos de tradicional colégio do Rio que recentemente postou foto sua no Facebook com uma folha de caderno enrolada como se fosse cigarro de maconha causou polêmica entre alunos e professores, constrangimento ao garoto e discórdia entre pais. Se na web é impossível controlar a repercussão de pequenos e gestos, orientar crianças e adolescentes a usar a ferramenta com responsabilidade é desafio.
O uso cada vez mais precoce de redes sociais na Internet — mais de um terço das crianças entre 5 e 9 anos já usa — tem assustado famílias e escolas, que se mobilizam para ajudar pais e filhos a evitar e lidar com problemas reais gerados no mundo virtual.
Foto: Arte O Dia
Foto: Arte O Dia
Mudança de comportamento ou linguajar, amizades suspeitas e mensagens enigmáticas são sinais de alerta. Especialistas não titubeiam em aconselhar: vigilância com diálogo é a receita para navegação segura das ‘crianças digitais’. “Um bom papo pode evitar que crimes como injúria, racismo ou até sequestros ocorram”, comenta Luiza Agostini, coordenadora de Mídia Online do Grupo Artplan, que fez palestra em seminário do Colégio Marista São José, na Tijuca.
CONTA ENCERRADA
Morador de Copacabana, o instrutor de vôlei Renato Leite, 40, e a mulher, Suene, 39, entravam regularmente no perfil do filho, Matheus, 10, e desconfiaram de diálogos com um desconhecido. “E aí, você vai lá hoje? Naquele horário?”, insistia o internauta. “Meu filho disse que era um novo amigo chamando para jogar bola em local onde tinham que pular um muro”, contou Renato.
Depois de alertar para os perigos que o garoto corria, a conta no Facebook foi encerrada há duas semanas. “Redes sociais são importantes, mas nosso entendimento é que não são ainda para sua idade”, ponderou o pai.
Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica (Sinepe-RJ), mais de 90% das cerca das 500 escolas particulares afiliadas no Rio já adotam alguma medida para alertar sobre maneiras de resguardar os pequenos de situações de violência online. “A preocupação com o assunto tem que ser crescente e constante”, avalia o presidente do Sinepe, Victor Nótrica.
A precaução se justifica. Pela última pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 51% de crianças entre 5 e 9 anos usam computador e 29% têm contas no Facebook ou Orkut — e os dados são de 2010.
Na rede pública, o alerta também está ligado. A Secretaria Municipal de Educação distribui nas escolas da rede kits com revistas, CDs, cartilhas e panfletos, alertando sobre o uso correto das redes sociais. Entre as iniciativas adotadas por escolas privadas estão proibição de acesso às redes sociais nas salas de aprendizado, e palestras e reuniões para professores, pais e estudantes.
Semana passada, o São José realizou seminário para 360 alunos do 7º ao 9º ano. “O sucesso foi tão grande que decidimos fazer outro em outubro voltado para as famílias”, diz o coordenador pedagógico do Ensino Fundamental, André Batalha.
Mudança de atitude é um sinal de alerta
A vida da publicitária X., 37 anos, se transformou em pesadelo depois que a filha, Y., 13, passou a ser assediada por um homem de 45 pela rede social. “Depois de vê-la chorando, ela me contou que o ‘amigo’ virtual a ameaçava e obrigava a vê-lo em gestos libidinosos”, contou a mãe, que contactou a polícia. O homem é procurado. “Vai levar tempo para minha filha se recuperar”, lamenta.
A ONG Safernet Brasil lançou na quinta-feira o Helpline.Br?, canal gratuito que oferece orientação sobre uso da Internet. Por e-mail e chat, acessados em www.safernet.org.br, equipe de psicólogos atende os internautas.
Mãe de um menino de 10 anos, a comerciante Maria da Conceição Madeira, 33, pretende cortar o mal pela raiz, acompanhando mais de perto o perfil do filho no Facebook. Ela notou mudanças no comportamento do menino desde que ele criou uma conta, há três meses. “Tenho notado mudanças em seu comportamento, um pouco mais introvertido, e vocabulário diferente, com gírias que antes ele não falava”, conta.